sexta-feira, 11 de junho de 2010

DIA DOS PROFESSORES - CRÔNICA

CARTA-ORAÇÃO DO PAI AO EDUCADOR

Uma de minhas filhas, a educadora Maria Montessori, escreveu o livro A CRIANÇA. Nele, ela diz que vou perguntar aos educadores: “O que fizestes da criança que lhe confiei?”.

É filho. Vou perguntar mesmo. E você vai responder muitas coisas. Algumas até já sei como: desenvolvemos sua cabecinha, aumentamos sua capacidade intelectual, dissemos a ele que amasse o próximo, fizemos de algumas pessoas famosas, etc. Mas será que eu me contento com isso? Não. Acho que vou perguntar mais. O que você fez com as outras capacidades que ofereci à criança, com muito, muito amor mesmo? O que vocês fizeram com a capacidade que elas têm de sonhar, de se alegrar, de cantar, de sorrir?
Sabe, um dos meus atos mais caprichados foi dar aos pequeninos, e a você também, as capacidades de inventar, fazer “artes”, criar, se comover e tantas outras. Dessa forma, ainda que de leve, você sentiria minha emoção quando criei o homem, quando criei cada um de vocês... Vocês ajudaram a criança a experimentar este meu tipo de jogo?

Tem mais. Quando eu imaginei esse mundo todo, coloquei formas, cores, sons aqui e ali. Preenchi todos os espaços. Exultei em preparar para o homem um mundo cheio de detalhes: nuvens travessas, peixinhos dourados, animais, rios, montanhas, sol, estrelas e tantas outras coisas que até parecem “coisas de criança”. Mas não parecem, não. São coisas de criança, e é assim mesmo que eu gosto. E por falar nisso, você deixou que a criança percebesse que esse mundo criado por mim é para ser vivido e continuado?

Como? Não entendi. Você me diz que não teve tempo? Que pena! Sou Deus e não tenho relógio. Talvez até tenha que providenciar algum. Tantos aparecem aqui com essa desculpa, que para mim nada significa.

Como? Claro que sei de suas dificuldades com salário e respeito tudo isto. Mas não aceito de modo algum quando alguns de seus colegas vem dizer “não ganho para isto” tentando justificar seu mau trabalho e falta de responsabilidade profissional.

Como? Eram muitos os trabalhos, relatórios, fichas, seus outros afazeres? Sim, eu sei o que é isso. Mas as propostas que lhe fiz não se preocupam com esses detalhes para acontecer. Simplesmente, eu pedi que você continuasse a minha obra. Confiei em você.
Sabe, ainda lembro daquele meu filho, seu irmão, que inventou o fogo. Que espantosa alegria ele teve. Sentiu-se tão feliz e tão grande, interiormente, que teve a certeza de ser meu filho. Ele tentou e teve este gosto.
Sim, está difícil para você me dizer o que fez com as crianças que lhe confiei. Não se assuste, eu sou Deus e Pai. Minha cobrança é suave. Eu já disse que meu jugo é suave.
Eu sei que você falou de doutrinas, leis, histórias bíblicas. Fez bem. Mas e da vontade de vida plena, que é minha maior vontade para vocês? Você sentiu isso junto com as crianças, ou será que desistiu ou foi desanimado, mostrando-me uma pessoa chata, cobradora, limitadora? Ou mesmo não falando de mim, falando mal do mundo e apontando só negatividades?
Você reparou que não foi por acaso que recebeu um diploma de educador? Eu estava lá na sua formatura. Como estive também em todos os seus anos de estudo, e continuo ao seu lado cada vez que você cresce na sua profissão. Quando você sofre, estou mais perto ainda. E como me alegro quando você reage, positivamente aos tropeços que lhe surgem pela frente. Tenho um grande carinho pela sua profissão e o escolhi exatamente para estar ali. Você não é um mero acaso. Nem pense que não conseguiu ou escapou de ser médico ou veterinário. Eu tenho meus planos para você, embora de vez em quando você mesmo os atrapalhe.

Quando meu Filho, muito amado, Jesus, esteve entre vocês, ele advertiu sobre o que fizessem a um desses pequeninos era a mim que estariam fazendo. Lembra-se? Por isso mesmo, eu que estou sempre no lugar deles quero lhe agradecer todas as vezes que me censurou com carinho, quando me repreendeu com humor saudável, e quando, com honestidade, teve que perder a paciência, pois você também não é de ferro. Quero agradecer-lhe todas as vezes que você me fez crescer confiante, dizendo que eu estava muito bem e nós dois no alegrávamos com isso.
Todavia quero lhe dizer que não gostei de muitas vezes encontrar, por anos a fio, você preocupado com muitas coisas que eu até já sabia ou poderia encontrar nos livros. O que eu queria era não só ouvir você, mas sentir a sua presença.
Assim mesmo todos os dias, lá estava eu sentado, parado, esperando que você me ensinasse a ser gente e a gostar exatamente de ser gente. Porem você só falava de conhecimentos que alias chamava de "conteúdos” que vez por outra, você vinha observar se estavam guardados dentro de minha cabeça.

Não faz mal. Assim mesmo eu criei o mundo para dá-lo ao homem. Este em você, eu criei porque precisava. Acredito na humanidade, acredito no homem, acredito em você. Sempre quis lhe dar este amor que lhe quer livre, que lhe quer amado entre vocês mesmos e mais, que lhe quer construtivo.
Para você, meu filho-educador, só peço mesmo uma coisa simples, do seu jeito e grandiosa: continue-Me.
Sempre estou com você
Seu PAI.

PS. Escrevi esta carta nos anos 80 hoje coloco um PS para pedir que você seja completo. Nas suas atividades diárias, na sua vida total, no seu grupo de educadores. Lute por toda a valorização da sua profissão, principalmente, valorize-se. Complete-se com o que encontrar neste mundo tão evolutivo, acelerado e também positivo.

Coloco um outro PS – Não escrevo só para professores de crianças, mas para todo e qualquer educador, familiar, escolar, universitário e quem sabe até político.
Maria Lúcia Pedroso Yoshida


Este texto originalmente foi criado para uma reunião de professores do Colégio Maria Imaculada - bairro Paraiso - São Paulo.
Foi publicada em outubro de 1985 pela revista FAMILIA CRISTÃ - Edições Paulinas
Na postagem de hoje recebe levíssimas alterações.