segunda-feira, 12 de julho de 2010

A DEUSA DO OBSCURO QUE NÃO ERA MÃE

quinta-feira, 6 de maio de 2010



A DEUSA DO OBSCURO QUE NÃO ERA MÃE

Começando com uma citação de Roberto Menna Barreto no livro CIRATIVIDADE NO TRABALHO E NA VIDA editado pelo Summus Editorial

"Criatividade é uma coisa... risonha!"



Vamos à historia de mãe.



Nunca aquela mãe havia ganho em rifa alguma. Fosse do que fosse, rádio, TV, carro, jarra de plástico em formato de abacaxi, para ela era dinheiro perdido. Na maioria das vezes nem tão perdido, pois sempre as rifas eram beneficentes. De qualquer um, menos dela. Ela tinha aquele sentido materno de ajuda que algumas mães têm alem dos limites de sua casa.
Mas ela não se importava. Ficava dizendo que tinha sorte noutras coisas da vida. seus filhos tão lindos: o marido tão atencioso. Enquanto falava algumas cenas menos agradáveis vinham à sua mente. Mas a capacidade que mamãe tinha de afastar esses pensamentos só eram comparáveis às habilidades de outra mãe: a mamãe avestruz, que enfia a cabeça na terra para não ver perigos.
Mamãe queria harmonia, paz e serenidade. Ela era (ou achava que era) o próprio sacrifício, desde que todos estivessem bem.
A historia aqui é que esta mãe ganhou um prêmio. Prêmio esse que está exposto em sua casa, bem na sala de jantar, mais pomposa que a de visitas.
Só quem é convidado para um lanche ou refeição e espicha os olhos pela casa adentro é que vê todo o merecimento que deve ser aquele galardão.
Havia um grande interesse de todos em saber do que era aquele prêmio. Afinal o que ela fizera para ganhar o prêmio máximo.
Ela não dizia, nem a família sabia, mas todos respeitavam.
Era um troféu como dessas taças de campeonato de futebol. Cor dourada, tinha alças como açucareiro de louça antiga meio reviradas. Toda desenhada em baixo-relevo, onde se viam figuras de mulheres. Cada um representava uma deusa: a da caça, a do amor, a guerreira, a da fartura, a dos bosques, a do prazer. Havia uma deusa cujo desenho era meio difuso e para a qual, como para todas as outras deusas, mamãe inventou o nome de deusa da escuridão, ou melhor, a Deusa do Obscuro.
Como ela mesmo inventara quem eram as deusas contava as historias que lembravam as deusas tradicionais, como Diana, Venus e outras, mas sempre ela dava a conotação de que todas eram mães e pensavam na subsistencia e bem estar dos filhos. Lá estava a deusa da guerra que ajudava todas as mães a defender os filhos com unhas e dentes; a deusa do amor sublime que só ensinava a buscar uma vida cheia de amor para dar e receber; a deusa da fartura que abraçava as centenas de filhos que tinha, todos num abraço só; a deusa dos bosques, sempre solta pelos parques das cidades levando seus filhos e tomando conta dos filhos dos outros. E por aí, mamãe era uma mitóloga de primeira sem nunca ter ido à Grécia ou conhecer a Roma Antiga.
Quanto à deusa do prazer mamãe dizia que ela tinha fases e ocasiões para tudo e todos, mas sempre eram enfocadas as proezas desta deusa do prazer vendo seus filhos alegres, crescendo felizes e mais baboseiras do gênero mãe. Como se o único prazer fosse TER os filhos e não todo o processo para quem escolheu chegar até aí.
Mas quando era para falar da deusa do obscuro, mamãe emperrava firme. Atravancava a lingua e dali não saia nada, a não ser a sua propria expressão no olhar que se tornava escuro e mudava de assunto. Ela chegou até a inventar a deusa dos produtos eletrônicos uma tal de Hefestas, descendente direto de Hefestos que na medida do possivel tentava aplacar a ira das mães nervosas com tantos serviços domésticos.
Mas todos queriam saber exatamente do jogo do proibido. Quem era a deusa do obscuro?
Ah, tambem onde foi que ela ganhou esse troféu.
No dia das mães a família se prometeu que tudo ia ser esclarecido e contado. Mamãe adorava presentes e sem-vergonhamente pediriam as respostas em vez de meros agradecimentos.
Ela, a mãe até queria se ofender, mas não podia.
Disse que faria declarações de tudo o que queriam saber.
Começou dizendo para aquela data não fizera nada especial nem bolo fizera. Estava pronta para sair e jantar fora. Com toda a familia, é claro!
Todos acharam bom, mas não respondia a nada.
No restaurante ninguem falava nada para pressionar mais as declarações de mamãe.
Naquele dia ela declarou que a deusa do obscuro não era mãe como todas as outras deusas de seu troféu. Todos explodiram em ohs! e ahs!
Como fora possivel uma deusa que não era mãe invadir o troféu, a taça de vida da mamãe?
Ela contou que a deusa do obscuro não era mãe, mas que vivia entrando na mente das mães, cutucando e importunando. Era uma deusa bonita, tranquila e calma, mas que vivia no obscuro da mente das mães. Ela, a deusa, achava que a maternidade é bela, gostava de crianças (declarou que suas filhas eram todas as mães que existiam). A Deusa do Obscuro achava que embora toda a beleza da vida de mães essas tinham que fazer valer seu lado individual, seu lado tipo "aqui a vida é só minha". Nesse ponto da vida de mãe, que até pode ser partilhado, quem cresce não é o filho, nem a mãe através dele. Aqui quem cresce é ela própria. Aqui ela toma conta dela mesma, arruma tempo para fazer valer toda sua vida intelectual, emocional e de ação. A deusa tinha feito pesquisas cientificas que provavam que ninguem dá o que não tem, muito menos ensina o que não sabe em questões gerais de vida.
Satisfeitos com a primeira resposta e pensando muito sobre tudo isso ainda aguardavam saber onde ela tinha conseguido aquele prêmio.
Ela disse que o troféu ela ganhou exatamente por causa da deusa do obscuro. Numa tarde em que passeava por um shopping entrou numa livraria e topara com um livro de miotlogia. O livro falava só de mulheres na mitologia. Folheou e resolveu comprar o livro. Começou a estudar o assunto e a inventar situações adpatadas à vida de hoje. E aquilo se transformou num verdadeiro estalo de consciencia. Gostou de muitas coisas que viu em si e detestou constatar que procurava uma escuridão para esconder aquilo de que, até já sabia, não gostava de seu dia-a-dia, de seu mes-a-mes, de sua vida toda e tentava esconder no obscuro de várias desculpas, algumas até viáveis, mas muitas esfarrapadas. Desculpas tais como: no dia que meus filhos crescerem... quando eu tiver mais facilidade financeira... quando não chover... quando o sol nascer quadrado...
No estalo de consciencia ou insight onde tudo acontece em tempos rápidos e tambem parecendo infinitos, já estava previsto que no Dia das Mães contaria sobre tudo isso à família. Nesse meio tempo estudou todas as possibilidades de, sem deixar de ser o que era, passar a ser tambem o que estava devendo para si mesma. Viu que daria certo. Mudou, mudava, aqui e agora. retomaria sua vida profissional, pensou em se matricular num curso avançado de computação e por que não num curso de pós-graduação?
Todos estavam perplexos por esse parto chamado nova consciencia que acontecera com a mamãe. Mas viram que era ótimo que tudo isto estava acontecendo.
Mas de onde tinha vindo o troféu?
Ela mesmo mandara fazer parecido com o que vira no livro de artes e pediu ao pai/marido que a ajudasse. Este a principio temeroso, sem entender muito o que acontecia mandou fazer numa fundição perto de casa.
O troféu ela (se) recebeu antecipado para mostrar que era um premio eternamente a ser conquistado e adquirido.
Todos ficaram contentes e antes que ficassem felizes demais, ela quis falar mais.
- Inscrevi-me numa pós graduação e fui aprovada, mas ainda não sei se vou.
Naquela oscilação perigosa a filha mais velha disse:
- Vai tranquila, não vai ter vingança! Nós não vamos querer ver suas notas, nem boletim de ocorrências!"
Parabens a todas as mães que conseguem fazer e se fazer valer.

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